segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Introdução - n. 1 - ago/2012


Inauguro essa nova página dentro do blog Demografia do Nordeste para dar vazão a um desejo de falar mais livremente sobre os temas demográficos. A dinâmica demográfica assume um papel importante dentro dos mais diversos campos de pesquisa e debate sobre políticas públicas, mas nem sempre são considerados, pois muitas vezes são desconhecidos. Cercado por mitos, consenso e senso comum, muitas vezes a dinâmica da população não é levada tão a sério apesar dos inúmeros estudos que são desenvolvidos sobre o tema. Assim, este espaço pretende ilustrar de maneira objetiva e sintética alguns dos aspectos relevantes da dinâmica da população e sua relação com o cotidiano da sociedade nordestina. Exatamente por tentar ser um texto que busca atingir os não-iniciados nos estudos demográficos e sem jargões científicos, pode desagradar ao leitor mais afoito por precisões e detalhes, mas espero conseguir acender questões para a reflexão posterior e, sempre que possível, indicar leituras para aqueles que quiserem se aprofundar mais. [Ricardo Ojima].

Nascimentos e crescimento populacional

Hoje no jornal O Globo uma notícia baseada em dados do Censo Demográfico 2010 confirmou o que muitos demógrafos já esperavam acontecer. “A taxa de fecundidade caiu entre mais entre as mulheres mais pobres”. Os dados mostraram que entre 2000 e 2010 a taxa de fecundidade caiu de 5,1 filhos por mulher para 3,6 entre as mulheres com renda per capita abaixo de 70 reais, ou seja, abaixo da linha de miséria.

Observação: A taxa de fecundidade costuma ser confundida com o termo fertilidade, pois a palavra em inglês “fertility” é um falso cognato. Fertilidade, em português, mede o potencial/capacidade de reprodução de uma pessoa, enquanto a fecundidade é o fato consumado, o nascimento efetivo de uma criança.

Deveriamos comemorar essa notícia, não é verdade? Se a população mais pobre está tendo menos filhos, a pobreza vai diminuir e nossos problemas sociais devem acabar. Será? Vejamos, a fecundidade das mulheres brasileiras sem diferenciação por renda é, segundo os dados do Censo 2010, de 1,86 filhos por mulher. Essa taxa está abaixo do nível de reposição da população, pois seriam necessários cerca de 2,1 filhos por mulher para a população repor a si própria (Veja uma animação que explica essa relação, infelizmente sem legenda em português). Assim, com a taxa atual, a população brasileira tende a decrescer em breve. Esse processo de redução das taxas de fecundidade já é de longa data no Brasil. Sendo que desde meados da década de 1970 a cada ano nascem menos crianças. E qual é o problema nisso? O problema é que tão rápido quanto o declínio dessas taxas, teremos um aumento da população idosa no Brasil. E investir em educação é muito mais barato do que investir em saúde e previdência social.

E quem vai pagar a conta desse sistema de saúde e de previdência social pressionado pelo crescimento do número de idosos? Basicamente serão os jovens que estão nascendo hoje. E se a taxa de fecundidade da população mais rica é da ordem de um filho por mulher, não serão os filhos dos ricos que sustentarão a economia dessa população envelhecida no futuro. Portanto, mais do nunca, o investimento em educação pública de qualidade é fundamental para o desenvolvimento do país. Se hoje já percebemos o gargalo de crescimento econômico derivado do mal investimento de recursos em educação (como destacado pela reportagem de hoje no Jornal Nacional sobre mercado de trabalho), como será o futuro de um país de muitos idosos e uma população jovem cada vez menor e, principalmente, com menos qualificação profissional?

Enfim, se você acha que não precisa se preocupar com as desigualdades sociais, pois acha que a pobreza é consequência da apatia e a aversão ao trabalho daqueles mais pobres. Seja mais egoísta e pense no seu próprio futuro, pois serão os filhos dessa população mais pobre que manterão a economia do sistema previdenciário brasileiro. No Brasil, o sistema previdenciário pressupõe que em média cada aposentado seja pago pela contribuição de cerca de cinco contribuintes. Assim, em um país de idosos essa relação vai se tornar praticamente de um para um. Se a produtividade econômica - que só pode ser atingida com uma excelente qualificação do mercado de trabalho - não for elevadíssima, você até pode ter direito à aposentadoria, mas não vai haver recursos para paga-la. Pense nisso...

Leitura recomendada

Mudança populacional: aspectos relevantes para a previdência [Acesse o livro]

Das causas às conseqüências econômicas da transição demográfica no Brasil [Acesse o artigo]

Censo 2010: País tem declínio de fecundidade e migração e aumentos na escolarização, ocupação e posse de bens duráveis [Acesse a notícia]

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3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns prof. Ojima! Inauguração com chave de ouro: texto curto, objetivo e informativo, além disso, com excelentes links.
Sds. Maria Celia.

Anônimo disse...

Legal. Então a solução é os pobres terem mais filhos para poderem trabalhar muito para sustentar a alta proporção de idosos e pagar a aposentadoria dos ricos e da nova classe média...
Só falta combinar com "os russos"...

PROFESSOR NEILSON SANTOS MENESES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.